Notícia

Ana Paula Oliveira fala com exclusividade para o Esporte Interativo



09 de Março de 2016 às 18:03h

 

Vítima do preconceito dentro dos gramados, hoje ela luta no Comitê de Reformas da CBF por melhores condições para as mulheres no futebol

 

Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal [+]
No Dia Internacional da Mulher, uma entrevista especial com a ex-auxiliar Ana Paula Oliveira

Por Thiago Silva:

Seja dentro ou fora dos gramados, no que tange aos esportes em geral, mas principalmente no futebol, a figura feminina não é benquista. Quando uma mulher diz que gosta de futebol, ela tem que provar por A mais B que, de fato, entende do que está falando, que gosta mesmo e, ainda assim, não é levada a sério. Quem já ouviu a nada célebre frase mulher não entende nada de futebol sabe bem do que eu estou falando.

Mas a realidade é ainda mais cruel quando elas têm o atrevimento de seguir carreira na área que muitos de nós, homens, consideramos inteiramente de competência nossa. O desrespeito é algo comum e natural, por mais estranha que essa afirmação possa soar. A modalidade feminina do futebol só não é inteiramente ignorada por nomes como Marta e Cristiana. Quando árbitras são execradas em praça pública, seja pelos torcedores, pelos companheiros de trabalho, por dirigentes e jogadores. Seu trabalho tem que ser perfeito e, ainda que seja, não será bom o bastante. Técnicas então… Ainda estamos longe de alcançar essa realidade.

Um dos primeiros nomes que vem à cabeça da maioria das pessoas em uma discussão como essas é a da ex-auxiliar de arbitragem Ana Paula Oliveira. A bandeirinha que, com mais de sete anos trabalhando em alto nível, viu alguns erros serem o suficiente para fazerem ruir sua carreira. Agora membro do Comitê de Reformas da Confederação Brasileira de Futebol, Ana Paula Oliveira bateu um papo exclusivo com o Esporte Interativo.

Antes de continuar, uma observação: essa matéria não tem o menor intuito de absolver a ex-auxiliar de seus equívocos em sua carreira. Mas sim mostrar a visão de uma profissional que teve grandes batalhas em sua carreira simplesmente por ser uma mulher no futebol e, por mais que homens tenham errado mais do que ela, a grande fúria caiu sobre suas costas.

ESPORTE INTERATIVO: Você sofreu muito com a discriminação. Como você superou o preconceito com o seu trabalho?

ANA PAULA OLIVEIRA: No começo eu era muito determinada. Sempre fui movida pelo desafio. Esses fatores emocionais me ajudaram muito e ter a minha mãe como referência e base da família foi muito importante, porque, quando eu me sentia depreciada dentro do meu trabalho, seja pelos colegas de profissão em relação a arbitragem, seja pelos torcedores, por dirigentes, até mesmo questionada pela mídia como ‘será que a mulher tem condição ou não de atuar’, eu me pautava na força que a minha mãe tinha. Isso me ajudou muito. Me alimentou a seguir e superar várias situações que eu vivi. E o que eu vivi de mais difícil foi essa questão da dúvida, de estar sempre tendo que provar que você é capaz, que você pode e conhece.

EI: Tivemos algum avanço nessa questão?

ANA PAULA OLIVEIRA: Em uma questão cultural avançamos sim. Se formos olhar na época da Maria Edilene, a minha geração e avaliar a geração de hoje, as árbitras já são acolhidas pelos árbitros, de uma certa forma, diferentemente do que era na minha época. Hoje temos uma cultura, que vem avançando, ainda não totalmente, que os novos árbitros já aceitam as mulheres. Estão acostumados com a presença da mulher, já não é novo. Isso facilita. Mas o grande desafio é o investimento de quem dirige e faz a gestão de apostar nessas mulheres. Isso não só em relação a arbitragem, mas também em relação ao futebol feminino. Talento nós temos. Nos dois âmbitos. O que falta é olhar um pouco mais, dar um pouco mais de oportunidades a essas mulheres. E já temos alguns avanços. No novo regimento da Fifa 2016 tem um membro de gestão feminino em cada instituição e federação. Vamos começar a ter mulheres em posições de liderança.

EI: Você e a Formiga são as únicas mulheres nos 17 membros do Comitê de Reformas da CBF. Como vocês encaram isso? A bandeira da igualdade no esporte certamente está com vocês…

ANA PAULA OLIVEIRA: Que venham novos tempos. Acredito muito nisso. Já acreditava quanto eu era árbitra. Acho que conquistei muita coisa por isso, sempre acreditar que era possível. Lógico que tem aqueles que não vão gostar, pela questão clubística, que nós temos que aceitar, mas ninguém pode falar que eu não fui competente bandeirando. Eu cometi meus equívocos. Mas não podem falar que não fui competente. Atuei dez anos e eu vi uma matéria que apontaram três erros meus. Então acho que passei bem. E agora venho para um novo momento, que é o desafio como momento. Espero que abracem, não só a mim e a Formiga, mas todas as mulheres que queiram trabalhar com futebol. Presidente de clube, técnica, preparadora, médica, psicóloga. Que ouçam essas mulheres. Vai ser bom para o futebol. Se é um esporte que move multidões, temos que abrir espaço para parte dessa multidão, que é sem dúvida, movida pelo gênero feminino. Se falar que vamos lutar pelo direito da mulher vai parecer um argumento feminista, mas não vejo dessa forma. Acho que homens e mulheres quando se respeitam trabalham muito bem juntos. Se estivessem trabalhando juntos por um bem comum, nosso país seria muito melhor do que é.

EI: Você falou sobre dirigentes respeitarem o trabalho. Dirigentes, assim como jornalistas, são formadores de opiniões para um público alvo específico como os torcedores. Recentemente temos visto algumas declarações infelizes de certos gestores…

ANA PAULA OLIVEIRA: Estamos vivendo um momento, não só no país, mas no esporte, em que precisamos qualificar nossos profissionais. Quando você tem uma pessoa qualificada para o posto, você pode até ter uma pessoa apaixonada no cargo, mas quando ela estiver de cabeça quente ela vai medir o que vai dizer, porque ela sabe o que ela representa e a importância que tem. Ela tem discernimento. O que falta para nós é essa mudança cultural e educacional. Estamos evoluindo. Hoje temos profissionais respeitáveis. Lamentavelmente temos pessoas infelizes. Temos que qualificar e isso independe do gênero. Todos ganharemos com isso.

EI: Por fim, você acredita que a mudança é possível? Qual sua visão desse futuro?

ANA PAULA OLIVEIRA: Eu sou uma otimista. Já vivi altos e baixos na minha trajetória e acredito na melhora. Mas essa melhora passa por uma questão cultura. Já avançamos? Sim. Pode ser um crescimento daqui a um ou dois anos? Algumas coisas sim. Outras levaremos mais tempo. São ciclos para dois anos, cinco e dez. Não dá para desenvolver projetos sem planejamento. Isso é vender fantasia. Tem que se trabalhar com o que é concreto. Temos que ser realistas, porque estamos falando de mudanças culturais e de pensamento. Para chegarmos onde estamos hoje… Quanto tempo levou? Eu fui vítima de uma declaração machista em 2007. Recentemente uma assistente também foi, passado quase dez anos. Estamos falando de mudança comportamental, cultural. Isso não é simples de mudar. Temos que ter paciência, tolerância e mutia calma. Mas eu acredito na mudança. Principalmente no futebol feminino. Vai mudar e muito daqui pra frente.

Fonte: Site Esporte Interativo

 

[ voltar para notícias ] [ página inicial ]

 Cadastre-seDiga não ao preconceito!LivrEsportes

Qual a necessidade de gerenciar o conteúdo de sua empresa?twitter facebook facebook

HomePerfilBiografiaBlogAgendaFotosVídeosNotíciasPalestras Contrate a AnaShopContato

 

Ana Paula Oliveira - Todos os direitos reservados 2009
Desenvolvido por AP1! Comunicação