Notícia

Ana Paula Oliveira concede entrevista à coluna Café.com



01 de Março de 2013 às 18:33h

 

Ana Paula Oliveira é uma garota singular. Movida pela paixão do futebol, a bandeirinha balançou em ventos altos, e longe. Mas quer ir além... Seu sonho é participar ativamente de uma Copa do Mundo, melhor ainda se fosse à próxima, no Brasil. Como todo voo está sujeito a turbulências, Ana Paula encontrou a sua ao sair nua na revista Playboy, o que a fez se afastar das arbitragens no futebol. A atitude arbitrária e de forte teor preconceituoso tomada pelos caciques da Federação Paulista de Futebol corroborada pela CBF dificultou a vida e as pretensões da bandeirinha, mas não a fez desistir de seus objetivos.

 

Foto: Arquivo
Foto: Arquivo [+]
A ex-jogadora de basquete e aguda referência do esporte brasileiro, a cestinha Hortência, não enfrentou barreiras dessa natureza. Outras jogadoras principalmente do vôlei, como Sheila (atual jogadora do Osasco) e Leila (ex-seleção brasileira) entre tantas outras – incluindo aí jogadoras de outros países – também tiveram trabalhos fotográficos sensuais publicados e nem por isso sofreram sanções nas suas carreiras.

A atitude imposta à Ana Paula é uma demonstração do atraso dos dirigentes do esporte no Brasil, mais especificamente aos do futebol, em relação a tudo que não seja sacanagens políticas, negociatas nos porões das federações ou corrupção. Aliás, esses sim deveriam ser os verdadeiros motivos para muitos estarem envergonhados e, naturalmente, impedidos de prosseguirem com a balbúrdia.

No Brasil, sempre os discursos de natureza preconceituosa vem carregada do tempero moralista e com a bandeira da ética hasteada em prol daquilo que é visto como descente. A pergunta é: que mau moral a nudez de uma personagem pode causar a sociedade atual, ainda mais se essa nudez estiver estampada nas páginas da revista Playboy, publicação conceituada pela qualidade editorial e conhecida no mundo todo? Lerry Flynt, dono da revista Hustler, em sua defesa contra os moralistas americanos na década de 70, que tentavam a todo custo proibir que a revista fosse publicada, sustentou que aquilo que a revista mostrava era belo, contrapondo-se com as imagens extraídas durante as inúmeras atrocidades produzidas pelas guerras e que diariamente chocavam os cidadãos americanos todas as manhãs através dos jornais. O que é mais belo? perguntava Flint, mostrando uma foto de um homem (muito provavelmente um soldado) todo desfigurado apodrecendo no chão abandonado numa mão e na outra uma foto de uma das mulheres da Hustler. A Hustler naturalmente é uma revista pornográfica e a sua linha editorial e a sua conceituação não estão em debate aqui, mas a questão semântica colocada por Flynt à época é sim um ponto que merece ser respeitado e refletido.

Polêmicas à parte, Ana Paula Oliveira foi (e está) censurada de realizar efetivamente sua profissão por uma questão mesquinha e arrogante de dirigentes sem moral para isso.

Depois de algumas tentativas e uns desacertos, Ana Paula aceitou conversar com o Laboratório de Temas para revelar um pouco mais sobre sua vida profissional, e pessoal também. Ao lapidar as frases escolhendo as palavras, ela deixa a impressão que sabe o que quer e está determinada a conseguir isso, entretanto fica no ar a vontade de dizer livremente o que, evidentemente, não pode (ou não deve).

Entrevista

Você reside em Campinas...
Vivo em Campinas, mas nasci em São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo. Hoje estou em Campinas por opção, fui criada em Sumaré/Hortolândia. Meu pai escolheu Sumaré por causa de emprego, ele era estampador. Cheguei em Sumaré com 5 anos de idade.

Fale um pouquinho da sua família.
Meu pai (Joel de Oliveira) era filho de família italiana com baiana rs, estampador e educado em berço adventista, nascido em Presidente Prudente, mas criado na grande São Paulo. Minha Mãe (Raimunda Lucineide da Silva Mata Oliveira) filha de nordestinos do Piauí da cidade histórica de São Raimundo Nonato, chegou a São Paulo ainda um bebê de colo, de família católica devotos de Nossa Senhora Aparecida e Padre “Cicinho”. Possuo dois irmãos mais novos, Alberto é o do meio e o “xodó” da família por ser o único homem e a caçula Aline.

Como é a sua relação com a família?
Bem, sou arrimo de família então me sinto responsável por todos desde os 12 anos (risos). Acho que tem a ver com minha personalidade. Tipo ´mãezona´. Comecei a trabalhar muito cedo para ajudar minha mãe a criar meus irmãos. Como toda família, temos nossos problemas, mas estamos sempre juntos e unidos e isso é muito importante. Acredito que a família é a base de tudo, é nela que aprendemos a nos relacionar com o mundo e as problemáticas da minha família me ajudaram e me fortaleceram para que eu conseguisse mesmo sem formação sobreviver num mundo tão complexo e apaixonante que é o futebol.

Quais lembranças você guarda na memória sobre a sua adolescência?
Tenho várias principalmente com a minha mãe e meus irmãos. Minha mãe era boa em contar estórias e lembro que nós adorávamos uma que ela contava sobre exatamente três irmãos, sendo que um era abestalhado e no final ele ganhava o prêmio. Sempre ríamos e pedíamos para ela repetir. As brincadeiras de rua, o subir em árvores, pegar goiabas do vizinho (risos)....enfim, coisas de crianças. As lembranças da infância marcaram mais, porque minha adolescência e juventude toda foram ligadas ao trabalho, estudo e futebol. Lembro-me do meu primeiro jogo, das discussões com amigos no colégio, pois no final de semana todos iam para as baladas e eu precisava dormir porque tinha que acordar muito cedo nos finais de semana para ir aos campos de futebol trabalhar. Não me arrependo porque também foi divertido tomar chuva, escorregar na lama do campo e levar o primeiro tombo quando todo mundo olhava. Foi preciso lidar com o primeiro constrangimento e com o primeiro gesto de gentileza. Minha adolescência foi árdua, mas também divertida.

Você já gostava de futebol quando fazia o ensino médio?
Passei a me interessar por futebol justamente quando terminei o ensino fundamental e me preparava para o ensino médio por influência do meu pai. Nunca joguei bola, mas procurei aprender um pouco sobre a mecânica do exercício porque isso me ajudou e muito como assistente.

Como você entrou no mundo do futebol? Sofreu alguma discriminação nesse começo?
Bem, todo inicio é complicado. É necessário muita determinação, vontade, foco e acreditar sempre. No meu caso a discriminação começava dentro da própria instituição, os próprios colegas de profissão não aceitavam amigavelmente a presença da mulher. Para eles, ter uma mulher na equipe de arbitragem era sinônimo de que se estava em fim de carreira, sem prestígio. Depois, com o passar do tempo, você estava escalada porque tinha corpo, nunca era por causa da sua competência. Eu lutei para ter o respeito de todos na arbitragem e depois dos jogadores, dirigentes e jornalistas. Mas o principal objetivo era mostrar para os meus colegas que podiam confiar no meu trabalho. E graças a Deus, apesar de algumas polêmicas que fazem parte carreira de um árbitro eu consegui isso. Os que não respeitam minha trajetória são porque ainda se incomodam em admitir que uma mulher foi capaz de executar com competência sua função como árbitra assistente.

Campinas tem crescido nos esportes, com destaque para o vôlei. Você acompanha outras modalidades esportivas da cidade?
Sim. Assisto quando posso e por editar uma revista digital a LivrEsportes.com.br (especializada em esportes) estou sempre antenada em outras modalidades esportivas além do futebol. No entanto, minha especialidade de atuação e pesquisa é o futebol. De vez em quando jogo tênis e vôlei, nas horas vagas com amigos, e pratico corrida, musculação e muay thay regularmente.

Como você analisa as situações do Guarani e da Ponte Preta? Por que o Guarani chegou a uma situação tão difícil em relação ao futebol?
A questão das equipes do interior não muda muito em relação a outras espalhadas pelo Brasil a fora. Noto isso também em Belo Horizonte. O futebol preciso ser revisto, precisamos ser profissionais, deixar o amadorismo de lado. Uma equipe como Guarani e até mesmo o próprio Palmeiras não podem ser vítimas de más gestões por tanto tempo e nada ser feito. Todos perdem com isso, o clube, os torcedores, a cidade, o campeonato. Precisamos de órgãos que realmente regulem e moralize o nosso futebol, sei que estamos longe disso, mas algo preciso ser feito. Clubes de tradição estão sendo extintos e ridicularizados devido a erros grosseiros de administrações ruins. Lamento em muito a situação atual do Guarani, espero que supere este mau momento porque já foi um clube vitorioso e de tradição na revelação de talentos para o futebol brasileiro. A Ponte Preta, por sua vez, passou por momentos difíceis, mas hoje vivi um momento contrário ao do Guarani, reflexo de um planejamento e de uma equipe que conhece suas limitações e virtudes.

Você tem acompanhado a situação do futebol feminino no Brasil?
Confesso que acompanho a distância, gostaria de ter um pouco mais de proximidade, mas devido às ocupações não consigo e a imprensa pouco cobre.

Você acredita que o futebol feminino ainda vai crescer mais ou já chegou no auge?
O auge do futebol feminino do Brasil chama-se Marta e, sinceramente não sei, acredito que já evoluímos um pouco. Hoje temos a Copa do Brasil Feminina, temos o torneio do Estado de São Paulo de Seleções promovido todo ano pela Federação Paulista de Futebol e a FIFA possui um calendário fixo de competições femininas. Precisamos na verdade é que o Brasil invista em futebol feminino, que se faça um trabalho sócioeducacional e cultural continuado e planejado para colhermos bons frutos no futuro por muito tempo. Não podemos fazer trabalhos a curto prazo, sempre com o objetivo imediatista. É preciso projetar, trabalhar e acreditar no futuro do futebol feminino. O que não acontece.

Quanto à arbitragem, não só no Brasil mas também no mundo todo, é sempre polêmica. Que avaliação você faz da arbitragem no Brasil e o que a diferencia dos principais campeonatos da Europa?
A arbitragem no mundo é sempre questionada, a diferença é que na Europa nem todo contato é falta e o árbitro é respeitado como autoridade máxima. Caso ele erre será penalizado de acordo com as normas da UEFA. Em nossa cultura o árbitro não é respeitado, e qualquer contato se cobra a falta. São dois fatores: a cultura e a educação. Esses fatores servem tanto para os torcedores como para os nossos árbitros. Acredito que precisamos avançar nestes dois, e desta maneira, muitos problemas diminuiriam. Assistindo aos campeonatos europeus nota-se que falhas também, mas não se vê jogador peitando, batendo boca e vice-versa. A relação jogador e árbitro é outra e com a torcida também. Estive lá e pude presenciar isso, precisamos crescer nestes dois fatores.

Qual o melhor trio brasileiro de arbitragem?
Bom, indicarei dois árbitros. Com estilos diferentes, porém, muito bons árbitros:
Wilson Seneme, pela postura, rigor e domínio de jogo, além da experiência.
Heber Roberto Lopes pela inteligência e experiência.
Assistentes: Van Gass, com perfil tranquilo e preciso e Altamir Hausman pela sua experiência.

Você já atuou em importantes jogos tanto da Libertadores como de finais do Paulistão, Copa do Brasil etc. Qual jogo foi o mais difícil para você?
Todos foram. Um erro em qualquer um desses jogos significaria “manchete”

Tem algum time de São Paulo que dá mais trabalho para a arbitragem?
No meu caso não. Sempre tive tranquilidade para atuar em todos. Sempre amei estar escalada em clássicos, eu adorava a adrenalina!!!! Sinto saudades!

Qual é o pior estádio para quem atua na arbitragem? Dizem que a Vila Belmiro é terrível, você concorda?
Aquele que não tem banheiro para tomar banho (risos).

Há muitos jogos em que, pelo decorrer da partida ou pela própria tensão do jogo, geram-se muitas discussões e polêmicas envolvendo a arbitragem, e no final do jogo o árbitro não dá uma declaração sequer. Sempre jogadores e comissão técnica dão entrevistas coletivas após o jogo. Você não acha que a arbitragem também deveria participar disso?
Acho, mas respeito a decisão do comando.

Você é a favor ou contra a adoção de recursos eletrônicos durante os jogos de futebol? Ou você é daqueles que entendem que o erro da arbitragem faz parte do jogo?
Todo recurso é bem-vindo desde que não atrapalhe a atuação do árbitro, entendo que precisamos respeitar que o árbitro de futebol não é uma máquina, ele é um ser humano e excesso de informação pode atrapalhar ao invés de ajudar. E detalhe: um chute pra fora faz parte do jogo, certo? Um pênalti perdido também? E uma falha da arbitragem também precisa ser entendida dessa forma. Agora, lógico, que a falha não pode ser algo grosseiro.

Você acha que o Brasil está preparado para sediar uma Copa do Mundo? Você foi (ou é) a favor da realização da Copa no Brasil?
Sempre fui a favor, mas hoje tenho dúvida se estamos preparados.

A Copa do Mundo no Brasil vem aí... E você tem o sonho de atuar numa Copa. Você sente esse sonho mais distante em razão do impedimento imposto pela FPF a você?
Hoje com a maturidade entendo que não. O retorno só dependeria de mim. Estou trabalhando, o tempo passou e para voltar precisarei me ajustar a uma série de novas normas. Entendo que posso contribuir como instrutora, mas a possibilidade de um retorno ainda é perturbadora para mim(risos). Atuei no jogo do Marcos e foi um presente que ele me deu. E depois, participei também do jogo do Zico. Amo estar no campo, me faz feliz e sempre faço com prazer.

Ter saído nua na Playboy te trouxe decepções?
Somente a intolerância por parte de alguns, mas decisões difíceis são para poucos.

Você considera ter sofrido de preconceito machista?
Sim, mas isso é passado. O importante é o hoje e o que futuro poderá me oferecer.

O que precisa acontecer para você retornar a atuar integralmente?
Bom, agora estou num processo de revisões e preciso apenas ter a certeza de que terei tranquilidade para fazer o que amo. Só isso.

Você é formada em jornalismo e com a sua experiência não daria para você trabalhar numa emissora de tevê como comentarista de arbitragem? Você gostaria de seguir nessa área?
É o meu sonho. Hoje atuo como comentarista no SBT/BH na TV Alterosa, no Programa Alterosa no Ataque, do qual participo toda terça e quinta, ao vivo, às 19h10.

Mudando um pouco de assunto, você já deve ter recebido cantadas de jogadores ou até mesmo de jornalistas, dirigentes...
Não, nada importante.

O que você mais valoriza num homem e o que mais despreza?
Valorizo a franqueza e desprezo a falsidade.

Como está a sua vida profissional hoje?
Hoje tenho me dedicado ao Alterosa no Ataque duas vezes por semana, os demais dias à revista LivrEsportes.com.br, aos estudos, (estou concluindo uma pós-Graduação na PUC), e a participações em eventos corporativos apitando, palestrando ou como mestre de cerimônia.

O Neymar é caçado nos jogos ou você acha que ele é cai-cai mesmo?
No início sim, hoje não mais. O Muricy trabalhou bem o garoto, os árbitros precisam ficar mais atentos.

Ano passado tivemos o Santos campeão paulista, o Fluminense campeão brasileiro, o Palmeiras campeão da Copa do Brasil, o Corinthians campeão da Libertadores e do Mundial do Japão. Mas na sua opinião, qual o melhor time de futebol do momento e qual o melhor jogador?
A melhor equipe é o Corinthians e eu diria que atualmente o melhor jogador é o Fred ao lado de Neymar e Ronaldinho Gaúcho.

Falando em Palmeiras, como você analisa a queda do time para a Segundona? Tem muita gente que entende que times tradicionais, grandes, não deveriam cair...
Lamentamos a queda, mas para o crescimento e evolução do futebol é importante que as falhas dos grandes apareçam e sirvam de exemplo para os menores. Precisamos mudar o nosso futebol para melhor. E o Palmeiras valorizará a Segundona do Brasileirão.

Não vale levantar a bandeirinha agora, heim! Qual é o seu time de coração?
Torço pela filosofia do futebol como instrumento educacional, social e cultural. E não apenas por esporte, lazer, entretenimento e negócio. Pra mim, Futebol é muito mais que isso!

Levantou...

Fonte: Laboratório de Temas

 

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